Apresentação para o Capítulo Geral de 2025
(ST GEN 133 e 1)
Uma Breve História
O diálogo fraterno e a reflexão que acompanharam a elaboração desta versão atual do Discipulado Franciscano foram precedidos por quase quarenta anos de história. É assim que esse processo foi descrito na versão de 2007 do mesmo documento.
Em 1981, pela primeira vez, todos os formadores da nossa Ordem se reuniram para um encontro internacional em Assis. Como resultado desse encontro, formou-se um comitê com a tarefa de criar um Diretório de Formação para a Ordem dos Frades Menores Conventuais — a primeira tentativa desde o Concílio Vaticano II. Esse documento, que recebeu o título O Discipulado Franciscano, foi aprovado ad experimentum no Capítulo Geral de 1983 e recebeu aprovação definitiva três anos depois, no Capítulo Geral subsequente.
Nos vinte anos que se seguiram, ocorreram diversas mudanças na Igreja, na Ordem e na sociedade. Muitos documentos sobre formação foram publicados pela Igreja, como os que tratam da Vida Fraterna em Comunidade e da Vida Consagrada. Nossa Ordem passou a valorizar ainda mais a importância da formação inicial e contínua.
O Capítulo Geral Extraordinário da Cidade do México (1992), e especialmente o de Ariccia (1998), trataram extensivamente da formação. De fato, o Capítulo de 1998 decretou a revisão do Discipulado Franciscano (moção n.° 25), para atualizá-lo à luz dos decretos da Igreja e da Ordem, e incluir os frutos da experiência formativa amadurecida nas últimas décadas. A Comissão Internacional para a Formação (CIF) foi incumbida dessa tarefa.
O Capítulo Geral deu aprovação provisória ao novo documento, incentivando os Ministros e formadores a enviarem suas avaliações e sugestões ao Conselho Geral. O Secretário para a Formação (Frei Daniel Pietrzak) foi encarregado de aprimorar o conteúdo. O documento serviu como base para a reflexão e avaliação no Encontro Internacional de Formação, realizado em Cracóvia e Harmeze, no verão de 2004.
Algumas propostas foram apresentadas e, posteriormente, desenvolvidas pela CIF, sendo levadas ao Capítulo Geral de 2007. Naquela ocasião, aprovaram-se alterações, como a criação de casas específicas para o Postulantado, Noviciado e Pós-Noviciado, além da elaboração de uma lista de orientadores da formação e suas respectivas atribuições.
As mudanças que intervieram ao longo dos anos fizeram do Discipulado Franciscano um texto riquíssimo e uma ferramenta útil para orientar o caminho formativo na Ordem. Por outro lado, também geraram uma sobreposição de linguagens, às vezes bastante perceptível durante a leitura. Por isso, é provável que esse documento precise ser retrabalhado, especialmente levando em conta os desenvolvimentos ocorridos na Igreja e na Ordem nos últimos anos.
Enquanto isso, saudamos esta nova versão do Discipulado Franciscano como uma oportunidade para um renovado compromisso com a conformidade a Cristo.
(Frei Marco Tasca, Ministro Geral, e Frei Lindor Alcides Tofful, Secretário Geral para a Formação – 2007)
Desenvolvimentos Posteriores
Atendendo ao pedido do Ministro Geral e do Capítulo Geral de 2007, Frei Lindor Alcides Tofful, em colaboração com a CIF, apresentou um texto mais unificado ao Capítulo Geral de 2013. Esse mesmo órgão, embora reconhecendo o valor do trabalho realizado, solicitou ao novo Secretário Geral para a Formação, Frei Roberto Carboni, que aprofundasse ainda mais o trabalho: uma reformulação integral do texto, após consulta às diferentes Federações sobre sua aplicação nas diversas realidades formativas da Ordem. A proposta era submetê-lo à aprovação definitiva no Capítulo Geral Ordinário de 2019.
Frei Roberto Carboni, antes de sua nomeação como bispo em 2016, e seu sucessor, Frei Louis Panthiruvelil, deram continuidade a esse trabalho com a CIF, envolvendo formadores de todas as Federações.
O texto revisado do Discipulado Franciscano foi apresentado ao Capítulo Geral de 2019. Esse Capítulo, por meio da moção n.° 4, propôs uma nova revisão do texto, considerando as sugestões recebidas.
O texto que você tem agora em mãos, produzido pelo Secretariado para a Formação (Frades Piotr Stanisławczyk, Maximiliano Sembering, José Kachelewa e Kazimierz Cieślik), em conjunto com frades representantes das Federações da Ordem, é fruto desse avanço. Foi aceito ad experimentum pelo Ministro Geral e seu Definitório em 2022, com a aprovação definitiva prevista para o Capítulo Geral de 2025, conforme proposto anteriormente.
Um Guia para o Novo Texto: Leitura do Atual Discipulado Franciscano
A introdução (n.ºs 1–16) estabelece o significado do discipulado e como o Discipulado Franciscano conduz à conformidade com o Senhor Jesus. Por isso, os termos “seguir” e “discipulado” são preferidos ao referir-se ao processo formativo.
A Primeira Parte (n.ºs 17–99) trata da experiência concreta de seguir a Cristo e conformar- se ao nosso modelo — forma minorum — e ao nosso pai seráfico, São Francisco. Considera sua experiência pessoal e a de sua fraternidade, assim como a tradição da Ordem. Aqui são apresentados os ideais a que aspiramos: os valores, dimensões e protagonistas da formação franciscana conventual.
A Segunda Parte (n.ºs 100–203) contempla a nossa vida concreta como frades, que recebemos como dom do Senhor. Vivida em fraternidade, essa vida se estende até o encontro final com o Pai da Misericórdia, por meio da “irmã morte corporal”. Trata das etapas do nosso caminho de sequela Christi na fraternidade franciscana, com ênfase na formação contínua — pessoal e comunitária —, que exige atenção e compromisso constantes.
A Terceira Parte (n.ºs 204–288) trata da formação inicial em todas as suas fases: desde o discernimento vocacional até a profissão solene, ordenação presbiteral e primeiras experiências comunitárias (postulantado, noviciado, pós-noviciado). Destaca-se a importância de uma formação unificada e de qualidade, sustentada pelos formadores e pela fraternidade, que acompanham os candidatos com testemunho autêntico de vida.
A Quarta Parte (n.ºs 289–315) é mais técnica. Trata das responsabilidades e funções de diferentes agentes da formação (Ministro Geral, Ministros Provinciais, Federações, Secretariado para a Formação, etc.), essenciais para o bom andamento da formação em Províncias, Custódias e Delegações.
Escolhas para o Documento Atual
Optamos por organizar o documento de modo que, primeiramente, trate da formação contínua — a vida diária dos frades (que buscamos viver, com nossos valores e estilo de vida, mesmo com nossas limitações e pecados). A partir disso, passamos à formação inicial, com a qual desejamos formar os frades segundo a nossa forma de vida e a tradição da Ordem.
As fontes que inspiram este texto são as Fontes Franciscanas, as mais recentes Constituições (2018), declarações do Magistério da Igreja e tudo o que se considerou ainda válido nas versões anteriores do Discipulado Franciscano, além das contribuições feitas durante o Capítulo Geral de 2019.
Foram incorporados temas até então não tratados, como ecologia, uso da mídia, responsabilidade financeira, abuso infantil, entre outros. Procuramos, enfim, tornar o texto mais unificado e coerente.
Público-Alvo do Discipulado Franciscano
O Discipulado Franciscano não se destina apenas àqueles que “trabalham na formação”
(Ministros Provinciais e Custódios, formadores, responsáveis pela formação contínua), mas a cada frade. Todos devem encontrar no texto algo que fale à sua própria história vocacional, ajude a redescobrir a beleza de nossa vida e desperte novamente a paixão pelo caminho da sequela Christi nos passos de São Francisco. Lembramos também os muitos frades que nos deram testemunho da alegria do Evangelho.
Ratio Studiorum
A atual Ratio studiorum trata da formação intelectual dos Frades Menores Conventuais e é parte integrante do Discipulado Franciscano (cf. DF 74). Este tema é extenso e envolve questões complexas, como a diversidade cultural presente na Ordem. Por isso, recomenda-se a apresentação de um esboço geral, que oriente um caminho formativo sério e integral.
O documento é inspirador em sua natureza, apresentando apenas sugestões gerais sobre os aspectos franciscanos da formação intelectual. Considera as diferenças culturais e convida as Jurisdições (Províncias e Custódias) a integrarem tais sugestões às suas próprias Ratio studiorum, com normas específicas. A coordenação entre Federações pode ser apropriada para sua elaboração.
A Ratio studiorum da Ordem estabelece diretrizes comuns para a formação intelectual, com ênfase no estudo do franciscanismo, do carisma franciscano conventual e sua contribuição para outras áreas do saber (cf. Const. 1 §5; DF 75). Explica as razões da formação intelectual, sua continuidade ao longo da vida do frade e as áreas de estudo em cada etapa formativa. Também propõe critérios de avaliação da eficácia desse plano.
Objetivos da Ratio studiorum:
- Indicar o que constitui a formação intelectual franciscana;
- Promover o conhecimento do pensamento franciscano, sua fecundidade e capacidade de diálogo com o mundo atual;
- Integrar o estudo às demais dimensões da vida
Este documento se dirige a todos os frades da Ordem, já que o estudo é uma dimensão essencial da vida de todo frade. Contudo, é especialmente relevante para aqueles que exercem um papel específico na formação intelectual: Ministros, Custódios, Guardiães, formadores, professores, estudantes, missionários e agentes pastorais (Franciscanos Seculares, MI, JUFRA, etc.).
Frei Piotr STANISŁAWCZYK
Secretário Geral por a Formação