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28 Abril 2017

O dom de Francisco. Artigo de Zygmunt Bauman

Escrito por  La Repubblica, 08-03-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto por IHU.

O Papa Francisco é o dom mais precioso (ou, melhor, inestimável) que a Igreja Católica Romana nos ofereceu, além de ser o presente de que a sociedade mais precisava nestes tempos atormentados pela incerteza, sem direção, à deriva, sem um propósito e sem confiança.

Mais do que qualquer outra coisa, o mundo de hoje, caracterizado por desordens, catástrofes e crises, é um conjunto de problemas que requerem atenção e devem levar à ação. Entre os personagens em vista e dotados de autoridade em nível mundial, somente Jorge Mario Bergoglio compreendeu e definiu claramente as prioridades a serem enfrentadas: 

- recordar a importância da arte do diálogo, que nunca aprendemos o suficiente e que, neste momento, parece esquecida: uma conversa que leva a considerar os pontos de vista, os valores e as prioridades diferentes das nossas; uma conversa que não visa a derrotar, humilhar ou ridicularizar um adversário, mas guiada pela empatia e voltada à compreensão recíproca, capaz de elaborar um modus convivendi e uma verdadeira solidariedade comum no trabalho conjunto para tornar o mundo mais hospitaleiro para a bondade, a justiça, a misericórdia e o amor;

- lutar contra a desigualdade galopante e profunda, contra a pobreza e o sofrimento e a humilhação que provoca, junto com a rejeição ou a falta de respeito pela dignidade humana e, portanto, também contra as suas causas: avidez, cegueira moral, indiferença à dor dos outros seres humanos, acompanhada por autorreferencialidade de interesses, intenções e ações;

- inserir esses e outros problemas de gravidade semelhante nos currículos das escolas de todos os níveis, do mais baixo ao mais alto; Francisco confiou à educação a tarefa de fazer renascer os critérios morais perdidos e restaurar vitalidade aos valores espirituais para levá-los de volta à magnificência e à eminência corroídas por um materialismo sem limites, por um consumismos desenfreado e por uma busca de lucro continua e desonesta. Desse modo, ele nos convidou para nos prepararmos para uma luta longa e difícil; na educação, não há soluções rápidas, atalhos, resultados imediatos. Como nos adverte e nos ensina o antigo provérbio chinês: “Se os seus projetos forem para um ano, semeie grão; se os seus projetos forem para dez anos, plante árvores; se os seus projetos forem para cem anos, eduque as pessoas”.

O dom chamado Papa Francisco oferece ao mundo um propósito e, à nossa vida, o seu significado. Demonstraremos que somos capazes e estamos dispostos a aceitar essa proposta e a agir em consequência?

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